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Acne da mulher adulta - Dr. Marco Rocha

Foto do escritor: Dr Marco RochaDr Marco Rocha

Atualizado: 16 de fev. de 2021





A acne da mulher adulta é definida quando acomete pacientes com idade acima de 25 anos. Não existe uma razão específica para esse corte etário, mas ele passou a ser aceito na realização e comparação entre estudos científicos. Sabe-se que dados epidemiológicos, principalmente publicados a partir dos anos 2000, constataram um aumento na prevalência de acne em mulheres adultas, com diferencial importante quando comparadas aos homens de mesma faixa etária. Os números variam muito entre cada região estudada, mas aceita-se uma média de 30% de pacientes adultas com algum grau de acne.1-4

Os inquéritos epidemiológicos também revelaram um aumento na incidência; porém, existe um questionamento se o número de casos novos está realmente aumentando ou se existe um maior acesso ao sistema de saúde. Mesmo assim, a busca por atendimento especializado é baixa, atingindo somente 20% das pacientes.4-8

Com relação a história clínica, as mulheres adultas com acne podem ser divididas em dois grupos básicos. No primeiro e maior grupo, conhecido como persistente, as pacientes apresentam lesões desde a sua adolescência, podendo referir períodos livres, muitas vezes relacionados ao uso de contraceptivos hormonais combinados; já no segundo, denominado de início tardio, as lesões surgem, de maneira significativa, somente após os 25 anos.8

Sua causa ainda não está totalmente determinada. Fatores genéticos são muito importantes sendo frequente o encontro de pacientes com parentes em 1 grau com acne de fase adulta. Sabemos que a genética é responsável por parte do nosso sistema imune, mais precisamente pela porção inata. Trabalhos comprovaram que existe uma hiperexpressão de receptores transmembrânicos, conhecidos como receptores Toll-like, em diversas células envolvidas na acne, como monócitos, sebócitos e queratinócitos. Essa modificação celular, mantém hiperativo o sistema de reconhecimento antigênico, o que leva a ativação de diferentes vias inflamatórias. Pelo menos duas são conhecidas e merecem destaque. A via NFkB libera citocinas inflamatórias de recrutamento, estimulando a presença de neutrófilos no processo folicular; já a via AP-1, aumenta a liberação de metaloproteinases de matriz, o que, em última análise, leva a formação das cicatrizes atróficas.9-14

Outra constatação importante, diz respeito ao funcionamento do sebócito como órgão endocrinológico. Em seu citoplasma existem todas as enzimas necessárias para produção da dihidrotestoterona (DHT), o hormônio androgênico mais potente. O sebócito pode realizar esta produção a partir de precursores fracos como o sultato de dehidroepiandrosterona (S-DHEA), ou mesmo a partir do próprio colesterol. Analisando um específico metabólito derivado deste processo, conhecido como glucoronato de androsterona (ADT-G), pesquisadores constataram que o “maquinário celular” da glândula sebácea está hiperfuncionante, mesmo na presença de níveis normais de testosterona e S-DHEA plasmáticos. Estes dados são importantes pois sabemos que quando a acne se manifesta como doença isolada, não associada ao hirsutismo, as pacientes, em sua maioria, não apresentam níveis bioquímicos de andrógenos elevados.15-17

Devemos lembrar ainda que situações clínicas que envolvam a presença de acne associada a outras manifestações hiperandrogênicas e/ou a irregularidade menstrual, devem ser investigadas. Nestes casos o painel básico de exames a ser solicitado envolve as dosagens de: testosterona livre e total, S-DHEA, 17-hidroxiprogesterona e menos frequentemente, androstenediona e a relação LH/FSH. A investigação clínica deve ser complementada pela ultrassonografia transvaginal de ovários. Quando existem alterações nos exames a síndrome dos ovários policísticos é a doença mais frequentemente diagnosticada, acometendo de 5 a 10% da população feminina.16-17

A cronicidade é o fato mais importante que diferencia o quadro do adolescente quando comparado com ao das adultas. Porém, há, sem consenso absoluto, outros pontos importantes quando comparamos estas duas faixas etárias. A distribuição das lesões tende a acometer mais a região de terço inferior da face e pescoço nas adultas, o que levou a denominação de acne em “U”; há predomínio de quadro inflamatório, normalmente leve a moderado, nem sempre encontramos hiperseborréia, boa parte das pacientes apresenta aumento da sensibilidade cutânea e é frequente o encontro de cicatrizes, representadas tanto por discromias quanto por alterações de relevo, principalmente atróficas. Entre os fatores de piora podemos citar o tabagismo, que leva a resposta mais lenta ao tratamento e é responsável por apresentações clínicas com maior número de comedões.17

Pela presença das lesões, muitas mulheres abusam da maquiagem, o que atualmente não é necessariamente um problema, desde que elas optem por produtos não comedogênicos e realizem a correta retirada/limpeza antes de dormir.17

Outro ponto bastante estudado está relacionado ao grau de impacto negativo na qualidade de vida. Sabe-se que ele é sempre importante e não há relação direta com a intensidade das lesões. As pacientes apresentam sintomas de raiva e depressão, além de relatarem problemas em suas relações sociais e de trabalho.18

Quanto ao tratamento precisamos estar atentos para uma combinação de fatores importantes existentes nessa faixa etária. Além da necessidade de combate ao processo inflamatório crônico, respeitando a tolerância da pele e assim favorecendo a aderência aos medicamentos tópicos; existe também, em nossa população, uma preocupação importante com relação aos aspectos do envelhecimento cutâneo.8

Vários medicamentos podem ser utilizados no tratamento da acne da mulher adulta, baseados no histórico das pacientes, na apresentação clínica e na sensibilidade cutânea. Existem diferentes medicações tópicas, antibióticos orais (preferencialmente prescritos por prazos de até 3 meses), bloqueadores hormonais (contraceptivos orais combinados e espironolactona) e em alguns casos a isotretinoína oral. Não devemos deixar de orientar a correta opção de fotoproteção, higienizadores com pH próximos ao da pele facial e hidratantes não comedogênicos, estes últimos fundamentais para melhorar a tolerância as drogas mais efetivas


 
 
 

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